Inflação fora da meta: 6 fatos preocupantes para os empresários

17 de janeiro de 2025
FecomercioSP

O aumento geral dos preços registrado ao longo de 2024, captado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), reforça a necessidade de ajustes na política econômica, principalmente do ponto de vista fiscal. Com uma variação de 0,52% em dezembro, o indicador acumulou alta de 4,83%, ultrapassando o teto da meta de inflação estabelecida para o ano (4,5%).

A despeito de o resultado do mês passado ter ficado ligeiramente abaixo das expectativas do mercado, a composição do índice preocupa, indicando que o ciclo de alta da taxa Selic deve seguir neste início de ano. Serviços em alta, alimentos muito pressionados e inflação acima da banda superior criam um cenário bem negativo para expectativas e para o processo inflacionário.

Quanto à inflação anual, os principais grupos de despesas que contribuíram para o aumento em 2024 foram: 

Juntos, esses três grupos foram responsáveis por cerca de 65% da inflação de 2024.

Confira, a seguir, a análise da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) em detalhes.

  1. Alimentos em alta constante pesando na cesta básica: em dezembro, os preços dos alimentos obtiveram alta de 1,18%, enquanto no acumulado de 2024, o avanço chegou a expressivos 7,69%. Para se ter uma dimensão desse impacto, esse foi o item que mais pressionou o IPCA, com uma contribuição de 1,63 ponto porcentual (p.p.). Tanto a alimentação no domicílio, que subiu 1,17%, quanto fora do domicílio, com alta de 1,19%, afetam diretamente a população de baixa renda e comprime o consumo geral, uma vez que boa parte do orçamento familiar é destinada a esses itens.
  2. Custos dos Serviços continuam em níveis elevados, indicando pressão de demanda: no mês passado, os preços dos Serviços subiram 0,66%, após uma variação de 0,83% em novembro. A inflação de serviços é um importante indicador de pressão da demanda na economia. O dado aponta que, mesmo com políticas monetárias restritivas, a procura pelos serviços ainda não mostrou uma desaceleração relevante, mantendo os preços em níveis elevados de forma consistente. Isso tende a pôr mais pressão sobre a taxa Selic e, consequentemente, nas demais taxas praticadas no mercado, encarecendo o crédito e os financiamentos. 
  3. Energia elétrica: alívio temporário: embora o grupo de habitação tenha registrado queda de 0,56% no último mês do ano, impulsionado pela redução de 3,19% na energia elétrica residencial, esse alívio é temporário. Com o fim dos efeitos das bandeiras tarifárias favoráveis, o custo da energia deve voltar a subir nos próximos meses de 2025.
  4. Política fiscal: a política fiscal expansionista — focada no aumento de receitas, e não no corte de gastos — também contribui para o aumento da inflação e acrescenta mais entraves à política monetária. Na visão da FecomercioSP, para 2025, se o governo federal não implementar medidas de contenção nos gastos e maior equilíbrio fiscal, será necessário ampliar ainda mais as medidas contracionistas, com novos aumentos na Selic, para conter a inflação, sobretudo a de Serviços. O resultado poderá ser uma desaceleração mais severa da economia.
  5. Inflação acima do teto da meta: no acumulado do ano, o IPCA superou tanto o teto da meta (4,5%) quanto o resultado de 2023 (4,62%). Esse comportamento aponta para uma inflação persistente mesmo com o Banco Central (Bacen) iniciando uma política contracionista na segunda metade do ano, o que mostra que os aumentos da Selic têm tido alcance limitado para combater a inflação. A política fiscal precisa contribuir.
  6. Custo para as famílias com renda mais baixa: em 2024, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a variação dos preços para as famílias com renda mensal de 1 a 5 salários mínimos, apresentou alta de 4,77%, superando os 3,71% registrados em 2023. O INPC é amplamente utilizado para reajustes salariais e benefícios previdenciários.

Por que o cenário preocupa o varejo e a classe empresarial?

A inflação elevada traz um impacto direto às operações empresariais e ao varejo, dificultando o crescimento e a rentabilidade dos negócios. Os motivos de preocupação para os setores empresariais e de varejo incluem: 

  • queda no poder de compra do consumidor;
  • aumento nos custos operacionais;
  • encargos financeiros com a alta da Selic;
  • impacto negativo sobre a confiança e as expectativas dos consumidores;
  • expectativa por mais aumentos de preços;
  • incerteza pelo ambiente fiscal.

Esses são ingredientes que trazem incertezas ao planejamento de médio e longo prazos das empresas. Em meio a isso, investimentos e novas contratações tendem a ser avaliados com cautela.

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